terça-feira, 26 de maio de 2015

O Desabafo de uma mãe

Como mãe sempre fiquei pensando, agi certo quando fiz minha filha desmentir perante seus colegas que ela tinha problemas de saúde, deixando-a sem amigos? Agi corretamente quando briguei feio com ela por ter beijado um garoto que eu não simpatizava? Durante esses anos todos me interroguei várias vezes, como agir? Por causa da minha primeira atitude em relação a pessoas que não eram suas amigas de verdade, não pude deixa-la fazer a viagem de formatura, pois ninguém iria ajuda-la. Todos os dias mal dormia pensando em como agir perante a uma situação que parecia não estar terminada. Infelizmente coração de mãe sente. Ela sempre muito independente nunca quis dormir comigo quando seu pai viajava. Ia sozinha para a academia, para o seu curso de desenho, chegava em casa muitas vezes pálida e muda, mas eu pensava, isso tudo irá passar. Não passou, só piorou, e eu necessitava demonstrar para ela que mesmo sentindo a pior dor do mundo, era possível sermos felizes. O mais importante era não passar para as pessoas a nossa dor, pois ninguém tem culpa dos nossos problemas. Neste período ainda não dormia com ela. mas qualquer barulhinho levantava sempre sobre saltada, se não fosse por ela, era esperando por meu filho que estava em plena adolescência, vivendo todos os momentos que um adolescente deve passar, só cabem aos pais demonstrar a eles o que esta certo, o que esta errado e o momento certo de parar. Lembro cada dia que Taymara, já apresentando noites de insônia ficava sozinha num canto ouvindo musica e eu esperando meu filho chegar. Sabia que algo também não estava  muito certo, muitas vezes fiquei no escuro e ao ouvir o barulho do carro me escondi atrás da porta, para brincar, mesmo sabendo que muitas vezes teria que brigar, não somente brincar. Hoje lembro e dou risada. Muitas vezes quase matei meu filho do coração, sempre com uma bala na boca, para disfarçar o bafo de bebida alcoólica, achando que poderia me enganar. Ficava muito brava mas no fundo ele sempre me respeitou pois sabia que eu estava certa e a pressão em casa sempre foi enorme. Muitas vezes Taymara perguntava, mamãe o Felipe não vai chegar? liga para ele, será que ele esta bem? e eu respondia, noticia ruim chega logo filha, fica tranquila. Período difícil para todos nós, mas trocaria tudo o que vivemos hoje pelos dias que fiquei esperando por ele atrás da porta.Vida sim, isto atualmente é vida, e não viver. Eles passavam mal mas viveram seus momentos. Infelizmente só o Felipe aproveitou. Sempre fui uma mãe amiga, mas brava. Sonhei que eles ganhariam o mundo. hoje fico com eles 24h, meu filho também desenvolveu a síndrome, passa muito mal, não aceita muito a ideia do marca-passo, a mesma situação da Taymara, o marca-passo irá ajudar? Caraca!!! Nunca achei que o raio caísse duas vezes no mesmo lugar. Saudades de poder deixa-los ir. não conseguimos. Brincamos muito, hoje temos um teto com sol ao entardecer e vemos a noite chegar. São dias, meses, sem sair a rua, olhando para este teto. o mais incrível de tudo isso é que quando conseguimos sair, nos arrumamos. Se não estão desmaiados colocam o sorriso no rosto. Se minha filha consegue 5 minutos dançar ou brincar, ainda existem seres humanos que nos julgam, sem saber o que passamos, pois não vamos ficar divulgando todas as vezes em que ela passa mal, até hoje não fizemos isso. Nunca imaginei passar por tudo isso. Sempre cuidei de todos que amei com carinho e dedicação, faria tudo novamente. Afastei muitas pessoas de nosso convívio, mas nunca imaginei que ficaríamos tão sós. Se não fossem pela Cristiane, o Joaquim e o Igor, minha filha já não estaria mais aqui conosco. Nunca irei esquecer aquilo que fizeram por nós. Não dirijo, e se não fosse pela Cristiane, nunca teria chegado ao neurologista em São Paulo. Dedico esse texto a eles. Obrigado!!
 
                                      Cristiane, Taymara e Joaquim
 
 
                                               
Família unida e feliz

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